Por vezes, á noitinha, quando já todos dormem e as sombras brincam ás escondidas com a lua, eu choro. Choro baixinho para não acordar ninguém nem incomodar a noite. Deixo as lágrimas rolarem pela face até caírem nos meus joelhos, bem juntinhos ao peito, e abafo os soluços com a mão em concha, tapando a boca bem aberta e enchendo devagarinho os pulmões com ar.
Normalmente choro á janela, embrulhada a uma manta, porque quando choro tenho frio, muito frio, mas que não vem da rua... Vem de mim. É o frio deixado pela tristeza, é ela que o traz e não o deixa ir embora e ele vai ficando, vai-me deixando gelada... Só não gela as lágrimas que continuam a cair.
Abraçada aos joelhos e com os olhos cravados nas intermitentes luzes da cidade, peço que a dor me deixe. Suplico-lhe que me abandone, mas não. Só as coisas boas é que nos abandonam, as más teimam em permanecer...
Quando o cansaço chega eu desisto... Deixo que ele combata a dor por mim e desço da janela para a cama só para chorar até adormecer.
De quase todas as vezes, na manhã seguinte acordo bem. Acordo com a cara desfigurada, os olhos inchados e as faces queimadas do sal, mas acordo sem tristeza e sem lágrimas.
Ontem foi uma noite destas... Chorei até adormecer.
Mas já não foi uma manhã em que acordo, me olho ao espelho e penso espalhafatosamente "Fodasse, tenho que deixar de chorar á noite!", e sigo caminho.
Hoje acordei e continuei a chorar, deixei-me ficar na cama e nem vi a minha cara, não abri a janela nem dei os bons dias á serenidade que fica depois de chorar horas a fio.
Hoje a serenidade não veio.
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