Que andam pela vida cheias de planos par' amanhã,
Que dizem frases feitas mas têm suas próprias manias
E os outros gostam delas porque elas são mesmo assim.
Eu gostava que no fundo o mundo fosse simples,
Que o dia fosse um barco e a noite fosse um cais.
Se tudo fosse sim ou não para mim era mais fácil
E eu não tinha que magoar as pessoas que gosto mais.
Eu gostava de ser mais ajuda para a família
De aprender a fazer bolos em casa da minha avó,
Porque ela me quer lá e até faz alguns petiscos
Com a minha mãe a ajudar para que ela não se sinta só.
Eu gostava de me lembrar de mais algumas coisas
Que a vida foi levanto em tratamento de choque
De me recordar de cheiros, de barulhos e dos discos
Com que a minha irmã me ensinou a ser alguém do rock.
Mas ando pela vida feito placa de auto-estrada,
Que ensina o caminho aos outros mas pouco sabe de si.
Mas ando pela vida por ver andar meus amigos,
E confesso que por vê-los nem me custa andar aí.
Eu gostava de ser qualquer coisa mais peculiar,
O blog da Filipa e os textos que lá diz,
Um assunto que tivesse algum efeito nas pessoas
Como os poemas da Inês ou as anedotas do Luís.
Eu gostava de me dedicar aos trocadilhos,
Que me fazem perder tempo e não fazem rir ninguém.
Que há coisas que não são para rir, são só para ter pinta,
Já dizia o meu pai e eu só agora entendi bem.
Mas ando pela vida cinzentão e esbatido,
Sem ter a coragem de convidar gente para dançar.
Mas ando pela vida sem ter a lata do Hugo,
Que é capaz de fazer tudo para a malta se animar.
Eu gostava de saber explicar bem o que sinto
Não mentir como minto quando digo que estou bem
Porque todos temos dores e para cheirar as flores
Desbravamos os caminhos com a ajuda de quem vem
Eu gostava de ser qualquer coisa mais bonita,
Fosse o sorriso da Rita, fosse o carinho da Rute.
Lutar cegamente por aquilo que se acredita,
Porque há lutas que se perdem mas precisam que alguém lute.
Mas ando pela vida às vezes sem ser sincero,
Lá me vai pesando quando é hora de deitar.
Finjo ser a pessoa que eu quero que os outros gostem
E acabo por não ser nada que valha a pena gostar.
São só bocados de mim...
São só bocados de nós...
São só bocados que eu enfim deixei ir na minha voz...
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